O Brasil tem o maior rebanho comercial do planeta e
é o maior exportador de carne de gado. As políticas e as tendências mostram que
o país vai se tornar grande exportador de todos os tipos de alimentos
tropicais, estando as carnes à frente, como fonte de proteína para a
humanidade. Essa é uma grande responsabilidade, além de oportunidade.
A carne ovina e caprina tem um vasto mercado a ser atendido, faltando
animais. Essa falta de animais pode ser traduzida pela falta de tecnologia
atualizada, pela falta de preparo do mercado consumidor, pela falta de
entrosamento entre produtores e vendedores, etc. Falta, enfim, o alicerce
sólido para a atividade.
Até o momento, o sucesso tem sido conquistado, passo a passo, aos
trancos e barrancos, pelos próprios produtores. Agora estão surgindo vários
frigoríficos, laticínios, curtumes, surfando na onda progressista. Ainda são
poucos e boa parte deles está fadada a fechar as portas por falta de
matéria-prima, ou seja, de animais.
Construir um edifício, um prédio, é tarefa fácil. O difícil é
disciplinar os produtores para entregar a matéria-prima na hora certa e com a
qualidade esperada. São tarefas complicadíssimas, pois essa "hora
certa" no mundo dos trópicos ainda não foi estudada o suficiente. De fato,
há "horas certas" para cada um dos 40 microclimas brasileiros.
Acertar os ponteiros entre produção e escoamento lucrativo é tarefa que exige o
máximo de atenção, sem os torpedos habituais disparados pelos fiscais de
plantão nos órgãos governamentais. Ou o Governo entende que precisa promover o
desenvolvimento (tão apregoado pela presidenta Dilma) ou a atividade continuará
navegando nas ondas turbulentas da clandestinidade, dos modismos, etc. Acertar
o ponteiro, portanto, parece fácil, mas não é.
Quando se fala em "qualidade esperada" há um perfil
determinado pelo mercado internacional, mas a realidade brasileira, em sua
produção, é muito diferente, estando apenas engatinhando, muito longe de poder
atender a exigência mundial. Sequer existem receitas culinárias adequadas para
cada microrregião brasileira. Ainda se associa carne de carneiro com "mau
cheiro", etc. - evidenciando que há um caminho a ser percorrido até que a
carne chegue, com regularidade, uma vez por semana, ao prato dos brasileiros,
sem cheiros, tão deliciosa como as demais.
O Brasil havia se acostumado a produzir carne "ruim", ou sem
qualidade, e importava a carne nobre de outros países, principalmente do
Uruguai. No mundo civilizado, porém, a carne de cordeiro é considerada muito
nobre e os brasileiros estão se acostumando a encontrar essa nobreza, mesmo que
importada. Cabe aos frigoríficos garantir o fornecimento de carne de alta
qualidade para o mercado, ampliando a oferta, reduzindo os preços, para que a
carne possa disputar, no futuro, um lugar no mercado, ao lado de outras já
consolidadas.
É o momento, então, de alertar empresários dispostos a investir em
frigoríficos, para que tenham em mente a necessidade de disciplinar o núcleo de
produtores que irá garantir o pleno funcionamento de sua indústria. Muitos já
fecharam as portas, devido apenas a essa falta de planejamento dos produtores.
De nada adianta erguer o prédio se irá faltar carne, ou ela será de
péssima qualidade. De nada adianta ficar malhando o clandestino comprador de
carne, pois ele somente desaparecerá quando for substituído, com eficiência,
por um sistema abrangente e recompensador para o produtor. Não será por
pressão, ou coerção, que o clandestino irá desaparecer, pois ele é acobertado
diretamente por produtores que, sempre, irão preferir aquele que paga mais. Tem
sido assim por 500 anos.
A atividade, portanto, está sendo construída, tijolo por tijolo e cada
um representa um carneiro ou cordeiro preparado para atender o mercado. Ao
pensar no prédio, o empresário precisa compreender que cada tijolo é um
cordeiro. Se ele tem os rebanhos de cordeiros, o prédio ficará em pé. Se não
tiver implantado o sistema de produção, o prédio será inútil.
Por isso, dezenas de frigoríficos e fornecedores de carne ao mercado já estão
dando assessoria completa, treinamentos, etc. para os núcleos produtores - com
vistas a uma moderna e homogênea carcaça.
A integração entre produtores, núcleos, frigoríficos, canais de
escoamento, exportadores, técnicos, cientistas e promotores em geral - forma a
cadeia da atividade. É preciso pensar em todos os degraus, ao mesmo tempo, para
ter garantia do sucesso.
Alguns frigoríficos já fazem confinamento próprio, para garantir o
acabamento de carcaça. Outros distribuem reprodutores selecionados. Outros
promovem cursos e dias-de-campo. A maioria distribui receitas culinárias para
usuários. Tudo isso mostra que o mercado está em franca ebulição, tateando o
futuro.
Se a voracidade fiscalizadora e punitiva do governo não impedir, a
produção de carne ovina continuará progredindo e logo estará exportando para o
mundo inteiro, enriquecendo o país. Na hora de fazer as contas, quem salva a
balança comercial é sempre o setor rural. Seria ótimo se o governo atendesse,
então, o setor rural com muita cordialidade, benevolência, estímulos e
compreensão, pois ali repousa o futuro do país, o verdadeiro financiador do
sucesso urbano tão bajulado e enaltecido pelas autoridades. No Brasil, não
haveria sucesso nas cidades se não fosse o suor do homem do campo!
Fonte: Revista O Berro
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