Nos
últimos meses, a indústria de carne brasileira tem vivido um drama com sua
principal compradora, a Rússia. Há mais de 100 dias, o país anunciou um embargo
à carne brasileira, o que afetou 85 frigoríficos do Paraná, Mato Grosso e Rio
Grande do Sul, até então autorizados a exportar o produto.
A
alegação russa é a de que o Brasil não se adequou às exigências sanitárias e
legais para continuar enviando produtos de origem animal ao país.
“Não
vemos motivos objetivos para esse embargo. O Brasil tem algumas das melhores e
mais modernas plantas de frigoríficos do mundo, segue todas as normas de
controle”, afirma João Gilberto Bento, superintendente de marketing e comercial
da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ).
Desde
então, uma missão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa)
já esteve no país, na tentativa de negociar a revogação do embargo, sem
sucesso. No último dia 29 de setembro, o Mapa enviou laudos de 15 plantas
frigoríficas, inspecionadas pelos fiscais do Departamento de Inspeção de
Produtos de Origem Animal (Dipoa) para o Serviço Federal de Fiscalização
Sanitária da Rússia.
Nas
próximas semanas, está prevista uma visita de especialistas russos ao Brasil,
provavelmente para reavaliar o embargo. “As indústrias do setor estão prontas
para serem auditadas, com todas as exigências”, diz Antônio Camardelli,
presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne
(Abiec).
Exportações
Segundo
dados divulgados, nesta semana, pela Abiec, as exportações de carne bovina
deverão recuar em 15% neste ano, em comparação a 2010. Boa parte dessa redução
se deve ao embargo russo e também por conta de crises políticas nos países
árabes, somada à redução no número de abates. Estatísticas da Abiec mostram
que, em setembro do ano passado, foram enviadas 24,1 mil toneladas de carne in
natura e processada ao país. No mesmo período deste ano, esse volume caiu para
20,2 mil toneladas.
Volume x Receita
Mas
segundo Camardelli, essa queda será compensada pelo aumento do preço médio das
carnes brasileiras, que tiveram um acréscimo de aproximadamente 20% no valor.
De janeiro a setembro, as exportações de carne bovina somaram US$ 3,5 bilhões,
o que representou uma alta de 3,8%. No mesmo período, o volume embarcado
registrou queda de 21%, enquanto os preços subiram 30,6%.
Um
dos fatores principais para isso está na valorização do dólar nas últimas
semanas, o que segundo ele, dará mais competitividade para o setor.
“Acreditamos que esses ganhos serão percebidos pela indústria entre 30 e 45
dias”, avalia o presidente da entidade.
Ministro
Em
entrevista a jornalistas, no início da semana (segunda-feira, 04), durante
visita à Sociedade Rural Brasileira, o ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro
Filho, afirmou que o Brasil já recuperou em outros mercados o que a Rússia
deixou de comprar.
Para
ele, só depende dos russos a volta da comercialização da carne brasileira. “Já
nos foram pedidos outros procedimentos e estamos mantendo toda a atenção para
isso. O Brasil cumpriu tudo o que tinha que fazer”, disse.
Embora
o foco de febre aftosa no Paraguai preocupe, o setor observa que o problema no
país vizinho poder render aumento nas vendas de carnes brasileiras. No entanto,
Camardelli ressalva: “Esse tipo de notícia é sempre negativo para o setor.
Ninguém sai ganhando”.
Para
Bento, da ABCZ, o Paraguai agiu rapidamente de forma a evitar que o vírus se
espalhasse. “Eles agiram de forma madura e eficaz”. Segundo ele, acontecimentos
como este mostram a necessidade e importância dos países da América do Sul se
reunirem e combaterem juntos esses problemas. “Todos nós já avançamos muito em
termos de manejo, sanidade e prevenção, mas ainda temos um longo caminho a
percorrer.”
Fonte:
SouAgro.
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