11 de junho de 2011

Diretor técnico da ABCONC fala sobre o elo da cadeia produtiva ovina.


"Se olharmos para cadeias mais organizadas como a suinocultura e a avicultura, e no caso de ruminantes, o leite, podemos concluir que o mercado é que faz tudo funcionar. Ou seja, organizando o mercado, os demais elos da cadeia começam a se arregimentar para atender a demanda. Porém, na ovinocultura não creio que seja tão simples, pois nestas outras espécies o modelo de produção é bem definido. Não existem tantas raças, nem cruzamentos indiscriminados. Estamos ainda distantes de chegar a um padrão definitivo e ainda pouco preocupados com a produtividade, que é o que faz o negócio girar.

A Nova Zelândia reduziu seu rebanho na última década em milhares de cabeças, mas ao contrário do que se poderia imaginar, a cada ano, a produção de cordeiros só aumenta. Além disso, existem dezenas de raças diferentes, e compostos, criados naquele país, porém, independente da raça que você cria, o padrão do seu produto tem que ser o mesmo. E o consumidor final não sabe a diferença entre uma ou outra raça ou cruzamento.

Na Argentina, entrando na onda do orgânico, o bom e velho cordeiro patagônico ganhou mercado e subiu de preço. Uma estratégia de marketing, pois os ovinos criados naquela região do país não viraram "orgânicos" de uma hora para a outra, sempre o foram, por questões de localização e clima.

O nordeste brasileiro, com seu clima seco e chuvas irregulares, onde a ovinocaprinocultura tem sido durante anos a salvação do sertanejo, também pode identificar e produzir um cordeiro diferenciado, orgânico, simplesmente selecionando melhor seus rebanhos e se preocupando com o aspecto nutricional durante os períodos secos e com um bom manejo sanitário preventivo no período das chuvas.

A região sul do Rio Grande do Sul, tradicional polo de ovinocultura do país, pode produzir, a exemplo do Uruguai, um cordeiro verde, 100% a pasto, sem a necessidade de grandes investimentos, somente com seleção e cruzamentos adequados, eficiente controle sanitário e manejo correto das suas pastagens.

Estamos no Brasil e precisamos descobrir o nosso jeito de criar, adaptado aos nossos diferentes climas, nossas pastagens, nossas culturas, isso não há dúvida, mas precisamos também, como em outros países, saber o que queremos produzir e para quem. Precisamos aprender a produzir com eficiência e com produtividade, viabilizar projetos sustentáveis de produção de cordeiros, identificar nichos de mercados para produtos específicos, mas principalmente precisamos saber onde queremos chegar e definir quais são os caminhos e qualificar e valorizar o nosso produto.

Somos um país continental, com muitas oportunidades e desafios, que precisa estruturar e dar melhor condição de produção ao produtor rural, que sabe bem fazer o dever de casa, mas que encontra-se desorientado frente ao mercado, suas oscilações e suas variantes.

Temos que investir em aumento de rebanhos, cruzamentos eficientes, programas sanitários e de seleção confiáveis, que permitam produtividade e rentabilidade ao produtor".

Carta do diretor técnico da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos Naturalmente Coloridos (ABCONC), Eduardo Amato Bernhard, de Porto Alegre/RS, sobre o elo da cadeia produtiva ovina que atualmente demanda maior atenção.

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