Pode
parecer brincadeira, mas nunca um trocadilho fez tanto sentido. O célebre
ditado “fulano colocou o burro na sombra”, tem tudo a ver com a pecuária
brasileira. Mas ao invés do burro, criadores estão empenhados em colocar mesmo
é o boi na sombra. Literalmente.
Isso
porque um projeto da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) quer
incentivar pecuaristas de todo o Brasil a investirem em áreas sombreadas nos
pastos. Além de garantir bem-estar aos animais, a iniciativa pode gerar lucros
extras com a comercialização de madeira, sem falar nos benefícios para a terra,
evitando erosão.
Para
João Gilberto Bento, superintendente de marketing da ABCZ, um projeto com este
foco vai ajudar a transformar as áreas de pastagens brasileiras em verdadeiros
bosques. Com isso, a pecuária brasileira quer mostrar ao mundo que é uma das
atividades que mais pode contribuir para a proteção das florestas.
“E
o gado vai pastar saudável embaixo dessas árvores”, diz Bento. Ele conta
que há cinco anos a ABCZ vem desenvolvendo programas voltados para a
sustentabilidade e proteção do meio ambiente e agora está discutindo quais
serão as melhores ações para o projeto de sombreamento.
Mesmo
antes de se falar em preservação e desenvolvimento sustentável, há 25 anos, o
pecuarista Jovelino Carvalho Mineiro faz o manejo das pastagens de sua fazenda
Sant’Anna em Rancharia, (SP). Ele faz o consórcio da área com o plantio de
eucaliptos na linha das cercas. O espaçamento de um metro entre uma planta e
outra possibilita que a árvore cresça e que haja áreas sombreadas nos quatro
cantos do piquete.
“Com
isso garantimos sombra aos animais, bem estar do rebanho e madeira para
comercialização”, explica o pecuarista, que a cada quatro anos retira lascas da
madeira das árvores e depois de mais alguns anos, faz o corte da madeira para
venda. “A cada ciclo desses fazemos a reposição das árvores e reformamos as
pastagens, plantando amendoim e sorgo”, conta.
Quem
também se dedica a preservar a fazenda e garantir o bem-estar dos animais desde
o final dos anos 80 é Arnaldo de Souza Machado Borges. Dono da Fazenda Ipê
Ouro, no triângulo mineiro, ele diz que anualmente faz o plantio de
aproximadamente 500 mudas de espécies frutíferas na propriedade em forma de
bosques e tem 12 quilômetros de cercas vivas com o jambolão, para proteger o
pasto de uma rodovia que corta a fazenda.
“Os
bosques são mais viáveis, porque protegem os animais de chuvas e vendavais e as
árvores resistem por mais tempo”, explica. Borges conta que escolheu plantar as
árvores frutíferas próprias da região, para contribuir na recuperação da flora.
Além
disso, essas árvores, mais baixas e achatadas do que variedades como o
eucalipto, por exemplo, têm pouca atratividade de raios durante tempestades.
“Assim os animais ficam mais seguros. Tanto que agora, as vacas estão parindo
no bosque, para proteger os bezerros de predadores também. Até a mortandade de
recém-nascidos diminuiu”, diz.
Outro
ponto favorável da consorciação entre pastos e floresta está no solo. “A terra
fica mais úmida e a braquiária cresce mais verde e forte. Assim, os animais se
alimentam melhor e engordam rapidamente.”
Qualidade
da carne
Para
ele, iniciativas de preservação como esta são benéficas para todos da cadeia,
já que os animais se alimentam mais, vivem com menos stress e a consequência é
uma carne bovina mais macia e com melhor qualidade no prato do consumidor.
“Sabemos da importância de preservar. São atitudes simples que trazem
benefícios imensos”, diz.
Para
Bento, da ABCZ, a pecuária vem dando exemplos, porque muitos pecuaristas, assim
como Mineiro e Borges, já fazem isso muito antes da discussão sobre a reforma
do Código Florestal. “Eles são a prova de que é possível conciliar produção e
preservação”, diz.
Fonte: Sou Agro
Nenhum comentário:
Postar um comentário